O FILA BRASILEIRO COMO GUARDIÃO PARTE I - TEMPERAMENTO
Por André A. Coltre e Mariana Ruggiero Dudeck
04/02/2015
Apresentação
Este é o tema mais apaixonante e importante sobre o Fila
Brasileiro. Pois sendo um cão de guarda, a raça é sobretudo Temperamento. Sem
isso seguiria sendo simplesmente uma raça decorativa e onerosa.
Por isto gostaríamos de apresentar neste artigo aquilo que
entendemos o que devem ser as características temperamentais ideais do Fila
Brasileiro como cão de guarda, principal função que a raça desempenha na
atualidade, isto sempre de acordo com o que vimos ser a meta de Paulo Santos
Cruz, porém colocando tudo dentro de uma linguagem mais moderna.
Sendo nosso objetivo que o texto sirva como um guia
introdutório para aqueles que estão iniciando a criação desta maravilhosa raça.
E claro, temos que ter uma noção realista de que as qualidades tem uma escala
de variação e isso faz que algumas acabem sendo mais pronunciadas do que
outras. Entre tanto, isso serve como um belo incentivo para a busca pela
perfeição.
Definições
Apesar de ser um tema complexo, tentaremos de modo objetivo
definir o Temperamento e como podemos.observa-lo no Comportamento, e como ele
deve idealmente ser buscado e selecionado dentro da raça. É difícil, mas um bom
Temperamento selecionado levará a boas manifestações do Comportamento, bem como
uma seleção ruim ou um ruim relacionamento com a família, quando não as duas
coisas juntas impede muitas manifestações de um bom Comportamento.
O Temperamento faz parte da bagagem genética do cão e não
pode ser mudado, é o jeito natural de ser do indivíduo. Assim podemos ver
descrito na seção Temperamento do padrão de Paulo Santos Cruz: "Dotado de
coragem, determinação e valentia notáveis". Mas tecnicamente quais são as
qualidades mentais que transforma essa descrição em práxis.
1) Bravura: É uma reação natural para enfrentar ativamente
uma ameaça para si ou para alguém de seu círculo. Um alto nível de bravura não
necessita de ordens e não demonstra nenhuma hesitação em assumir uma situação
de combate. Aqueles que não possuem nenhuma bravura sempre irão se retirar de
um conflito intenso;
Cão: Sultão do Vale do Rio Doce
2) Firmeza: O cão firme age sempre de maneira enérgica aos
estímulos e tem muito ânimo para trabalhar. Isso é bem diferente dos cães
tímidos que agem de maneira lânguida e com pouca motivação;
3) Dureza: Se traduz na capacidade de um cão suportar altos
níveis de estresse e de se recuperar e esquecer experiências desagradáveis
muito rapidamente. Um cão mais suave é mais sensível em relação a tons de voz e
precisam de mais tempo para se recuperarem de algo. Fora que demandam mais
cuidado para serem introduzidos a novas situações;
4) Tenacidade: Marca do cão que não se importa com o cansaço
e os ferimentos, quanto mais é revidado em suas investidas, mais aumenta seu
desejo de continuar. Esta é uma característica rara e difícil de se manter na
seleção genética.
Cão: Quinzinho do Acablocado
Agora vamos analisar de maneira técnica o trecho mais famoso
e distintivo do padrão: "Não oculta sua ojeriza a estranhos". Que
qualidades que um cão da raça deve ter para que possua uma verdadeira Ojeriza.
5) Defesa Resoluta: É a vontade de eliminar uma ameaça de
maneira violenta, pois o cão se sente, não com medo, mas afrontado por algo.
Ele combate querendo apenas destruir a fonte do perigo e não querendo
afasta-la. Quando não se tem a defesa resoluta, mas a simples o indivíduo quer
apenas afugentar o perigo. É necessário saber que o oposto dessa característica
é a defesa em fuga.
6) Impulso de Luta: É a alegria por lutar. Uma constante
vontade de medir forças em situações de risco, vendo os adversários mais como
um parceiro de lutas. Essa é a característica que une todas as outras
qualidades de um guardião por excelência. Esta capacidade leva a grande
concentração e intensidade feroz;
7) Limiar Médio: Limiar de excitação é a prontidão para
reagir de forma hostil a todas as ameaças e voltar rapidamente ao estado de
calma. Um limiar alto significa a demora para reconhecer uma ameaça como tal,
quando baixo, tudo se torna uma ameaça. Assim o ideal é que se tenha um limiar
de excitação médio para que se possa avaliar tudo com clareza e ainda reagir
rapidamente.
Como última parte de nossas observações no tópico
Temperamento do padrão encontramos: "Nem sua tradicional meiguice,
obediência e fidelidade aos donos e seus familiares". Que em cinotécnia se
traduz como.
8) Espírito de Matilha: Representa a conexão entre o cão e
os membros da família e a capacidade responder a estes. Isto permite o cão ter
alta sensibilidade para saber o que está sendo requerido dele.
Sinais Indicadores
As melhores formas de se analisar o Temperamento do Fila
Brasileiro é primeiramente por meio de seu Comportamento e seguidamente por sua
Linguagem Corporal. Estas duas formas demonstram as características
temperamentais tanto dos bons, quanto dos maus representantes da raça.
O Comportamento é a junção das atitudes positivas e
negativas tomadas diante de estímulos externos que ocorrem na vida e reforçados
com a experiência e resultados. Para dar uma caracterização mais clara,
imaginemos o cão como amigo e protetor de uma família e sua casa:
1) Sua afeição, fidelidade e companheirismo são partes das
causas determinantes da dedicação, cuidado e do sacrifício pela família;
2) Por estar pronto para lutar, revidando a agressão e
defendendo aqueles a que tanto ama de maneira muito enérgica, não por
insegurança, mas por grande hostilidade e ódio, assim ataca direto sem rituais
de intimidação, como eriçar de pelos, rosnados e posturas. O cão de menor
qualidade, rosna, late, mas sempre com o intuito de ameaçar e amedrontar;
3) Reconhece e aceita as vontades e regras da família, sem
manifestar desagrado algum, não por humilhação, mas pela ligação que nutre com
cada um. É grudado como uma sombra, sempre querendo estar aos pés de alguém;
4) Demonstra prazer por estar em situações de luta, seja
brincando ou a sério, age imediatamente e de forma franca, com nítida vontade.
Se apartado da ação, vai tentar voltar;
5) Quando em um confronto em defesa do lar e da família, o
cão não para enquanto dura a ação, ele sempre está tentando ganhar e não
importa a exaustão, a pressão, ferimentos e ossos quebrados, ele vai manter o
entusiasmo pelo combate e morrer lutando;
6) Em ambientes novos, age cheio de segurança e confiança.
Caminha a frente ou ao lado do dono. Se se demorar nesse lugar, calmamente
sentam e até cochilam. Percorre a nova localidade desprezando outros cães,
porém atacará cães e pessoas caso a sua linha de intimidade seja ultrapassada.
O cão medroso precisa ser estimulado a andar, fica colado ao dono, não volta
sua garupa a um desconhecido. Começa a puxar para sair do local, confessando o
desejo de fugir dali.
Quanto a Linguagem Corporal, ela se torna importante, pois
os cães não se comunicam por meio de palavras, mas demonstram o que estão
sentindo e querendo através da Linguagem Corporal e por terem uma capacidade
racional menor se expressam sem tabus, o que torna a observação do corpo canino
uma forma confiável do que se passa com ele.
Para exemplificar melhor essa análise, vamos imaginar os
cães dentro de uma situação nos vários momentos de uma exposição.
1) Olhos: Ao entrar em pista, o cão sempre devolve as
encaradas que recebe. O olhar é firme, sereno, confiante e altivo. Se no caso o
cão for de Temperamento fraco, evitará olhar diretamente e nesse caso o cão
sente apenas medo, podendo fugir se for mais pressionado;
2) Orelhas: As orelhas ficam normais, ficando para trás
apenas quando atacam, tanto para o cão excelente como para o cão bom. As
orelhas de um cão fraco permanecem sempre para trás;
3) Cauda: Levantada na maior parte do tempo, eventualmente
com ela reta e com a ponta levantada. A cauda do cão mediano permanece na maior
parte do tempo reta e com a ponta levantada. Por fim, a cauda de um cão ruim
ficará baixa ou entre as pernas;
Cão: Embo da Chácara Três Irmãos.
4) Ataque: Mostra disposição e desenvoltura, sem sinais como
lamber os beiços ou desviar o olhar. Avança até onde a guia permite, sempre
focado no alvo. Quando pego de surpresa, o cão pode até mesmo parar, mas não
recuará e seu tempo de reação será mínimo. O cão de Temperamento mediano,
embora mostre disposição, ataca de forma mais lenta. Acaba recuando um pouco
quando pego de surpresa, mas não emite sinais como lamber os lábios, tendo um
tempo de reação mínimo. O cão ruim não reage, foge e pode mesmo urinar. Arfa
muito, saliva em excesso, lambe os lábios. Se pego de surpresa correrá, se não
tem saída vai latir e se debater. Pode até mesmo esboçar um ataque, mas será
sempre vacilante;
5) Mordida: A mordida do cão excelente é cheia, calma e com
muita vontade, ele vai puxar mais que balançar a cabeça. Já a mordida do cão
bom é com a metade da boca e mais desesperada. O cão fraco se chega a morder é
como um beliscão, totalmente desesperado e recua em seguida.
Cão:
Trias do Santa Luzia
Considerações Finais
Sendo o Fila Brasileiro um molosso de porte grande, temos
que levar em conta que tirando alguns indivíduos mais precoces e outros mais
lentos, a imensa maioria dos exemplares da raça vai estar mentalmente pronta, a
partir, dos dois anos de idade.
O modo como o cão irá expressar seu Temperamento através de
seu comportamento, isto é, seu Caráter vai depender das informações que receber
quando for um filhote. Mas é por volta dos 18 meses que tudo estará sendo
definitivamente definido. Assim é somente quando percebemos que o comportamento
dos cães já está maduro e bem fixado é que se pode avaliar com total certeza a
força do Temperamento.
Cabe ainda uma última observação, o Fila Brasileiro devido a
sua seleção é a raça que apresenta a maior agressividade e rejeição aos
desconhecidos, por conta disso é comum vermos filhotes, por exemplo, de 5 ou 6
meses manifestarem algo assim com aqueles que não consideram como parte da
família.
Cão: P .40 do Cara Branca
Saiba mais: esse
texto e outros artigos estão disponíveis no grupo " Fila Brasileiro
funcional " pra quem quiser conhecer.
Olivar Leite.